segunda-feira, junho 6

A Gravataí que eu vejo. Por, Joelson Cardoso

Ao procurar na web uma imagem que representasse nossa cidade no perfil da página “Gravataí no face”, que criei na rede social Facebook, me deparei com um blog onde o autor se arriscava a descrever como é, ou seria, Gravataí. O blog, em um tipo de apologia a estes movimentos “under” alguma coisa, de tons escuros e escrita pessimista, carregada de sarcasmo, coloca em evidencia uma cidade degradada, desvalorizada, cheia de irregularidades, de pessoas e hábitos fúteis e de lugares deploráveis. Até mesmo algumas coisas das quais os cidadãos desta cidade se orgulham foram depreciadas pelo hábil autor em seu texto bem enredado. O Parcão da 79, a construção civil, as “paradas”, as calçadas, o Pampa Safari, etc. Todos foram devidamente citados e catalogados.
Gosto de pensar que na vida existem duas formas de se encarar as coisas: aquela que pode até terminar em um câncer e aquela outra - a que prefiro, olhar o lado bom da vida.
Como acadêmico de sociologia, ciência política e antropologia sei o quão arriscado é definir, catalogar, estereotipar qualquer coisa. Para arriscar é preciso ter conhecimento, ciência do assunto, envolvimento e até mesmo sentir o objeto de analise. E em muitos casos o espaço não é nada sem o valor atribuído a ele. É o chamado valor social. 
Devo acrescentar que qualquer relato particular seja ele extremado pelo pessimismo ou otimismo, não é “válido”, pois existe toda uma consciência de lugar, de social que está acima do julgamento individual. Só aqui teríamos matéria para um gigantesco debate.
Bem, descontituída a suposta autoridade que possam conceder ao autor, gostaria de contrapor sua arte. 
Ele considera ridículo que nossa cidade seja a única no mundo tendo sua distribuição através de paradas de ônibus, digo que me sinto lisonjeado de viver em um lugar único, de tamanha singularidade; 
Ele apedreja a Sogil como a empresa dona (tirana) da cidade, digo que vejo uma instituição séria, com muitos problemas assim como todas as outras, mas com claros objetivos e metas que buscam melhorar seus serviços dia-a-dia e hoje é referência nacional com seu plano de atendimento e constante renovação de sua frota (todos reclamamos do monopólio da Sogil porque parece fazer parte da cultura do gravataiense, mas vamos usar os serviços das cidades vizinhas para aprender a valorizar um pouquinho mais aquilo que temos); 
O Parcão da 79, citado como a “Goethe gravataiense”, é um espaço social onde impera a diversidade, a liberdade de expressão e culturalidade, com problemas assim como há em todos os locais do mundo, mas que pode ser curtido aqui, pela gente daqui, sem ter que sair da cidade; 
Nosso Pampa Safari é referência no estado inteiro, motivo de matérias jornalísticas diversas. 
Nossas calçadas, não estão bem conservadas mesmo, mas trazem no seu mosaico, os traços da evolução da cidade, do desenvolvimento, prefiro vê-las como rugas do nosso chão. 
Em geral flagro uma cidade que lutou contra sua vocação de dormitório e tornou-se protagonista, uma potência industrial do nosso Estado e País, e que bom que nossos operários, paleteadores do progresso têm no Parque dos Anjos, um local que os agrade e os reconheçam como importante engrenagem desta potente máquina.
Sem me alongar muito, faço meu último reparo ao falar do Rincão da Madalena “Grande local da ilustre cidade. Lá habitam os marginais, as putas, os travestis e tudo que há de ruim em Gravataí”, como ipsis verbis é descrito no blog. Devo alertar a quem ainda não sabe, que lá é lugar de gente trabalhadora, gente dotada de alto nível de solidariedade, de rara união e coesão social, passível de lembranças da antiga França e suas revoluções populares. Aquela gente bateu muita panela para conquistar a água de beber. Tem putas, tem travestis, tem marginais sim... os dois primeiros sem considerações, cada um leva a vida da maneira que mais lhe agrada e convêm, chamamos de livre arbítrio, já este último é fruto da desigualdade social, do desenvolvimento imediato e por vezes restrito, mas principalmente (não generalizando) da ignorância dos mais letrados, dos doutores e seus canudos, dos nascidos em berços de ouro, que pensam que desigualdade social se resolve com polícia e cadeia. Estes raramente lembram do velho contrato social, eternizado por Rousseau, onde em suma o preceito era, ou deveria ser, o bem comum. É este comportamento que marginaliza pessoas e estigmatiza locais.
Mas enga-se quem pensa que isto é privilégio de um local ou outro. Infelizmente está por toda a parte.
Ah, só para constar, no Rincão também tem gente que sabe um pouquinho de leitura e escrita. 
Um abraço.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

...