quarta-feira, fevereiro 24

O espanto de Avatar

Passado pouco mais de dois meses do lançamento do filme Avatar, sucesso de bilheteria no mundo todo, decidi ir ao cinema com a família e conferir os tão comentados efeitos 3D, para quem não lembra ou não sabe é aquela dimensão que dá a sensação de profundidade na imagem exibida na tela plana. O primeiro espanto da noite ocorreu antes mesmo da sessão começar. A fila para entrar na sala tinha inacreditáveis dezenas de metros. Fato considerado normal não fosse o filme estar em cartaz a mais de dois meses.

O segundo espanto, este previsível e aguardado, ficou por conta dos efeitos em 3D. Caramba, é realmente fantástico, a impressão é de que você pode tocar os personagens ou os objetos da cena. Definitivamente esta é uma tecnologia que realmente veio para revolucionar. Arrisco-me a dizer que, tal como aconteceu com o VHS e o DVD ou a fita K7 e o CD, acontecerá com a TV comum e a TV 3D. Vou aguardar ansioso por essa inovação.

Mas o terceiro, maior e agradável espanto, ficou por conta do roteiro do filme. Isso mesmo. Diante de tanta crítica ao tema, considerado um clichê requentado nas telas dos cinemas (o capitalismo que destrói a natureza; os interesses dos poderosos sobrepondo-se aos interesses dos “fracos”; a invasão armada do território alheio justificada pelo desenvolvimento econômico; etc e tal) e da inegável atenção chamada para a nova tecnologia de exibição, o roteiro do filme também causou espanto.

Eu penso que essa nova geração, nascida a partir do ano 2000, trás consigo uma consciência evoluída, um apreço pela natureza e por tudo aquilo que ela representa para o equilíbrio da vida na terra. A nossa geração, o pessoal dos vinte, trinta anos a fora, por outro, já é mais “dura”, insensíveis para essa relação com a natureza. Mas ontem na sala do cinema, diante de uma representação chocante dessa nossa insensibilidade, enquanto todos assistiam angustiados a cena, muito bem explorada, da derrubada de uma árvore importante para o equilíbrio natural daquele ecossistema (cena talvez comparável àquela em que a mãe desesperada põe os filhos para dormir em quanto o Titanic afunda. Também dirigido por Cameron), a manifestação de uma criança, de aproximadamente nove ou dez anos, causou calafrios aos espectadores das cadeiras mais próximas.

Com a voz estremecida, delicada de menininha quase chorando, escapa-lhe um alto e sufocante: “Nããão!”. Um desabafo que parecia sair do filme. E tenho certeza que todos ali naquela sala queria gritar, em coro, a mesma coisa. Essa menina ainda não sabe mas a maioria ali, sabia que aquela estória retratava a nossa história. Que foi contada mais uma vez, para que não esqueçamos. Eu tive e apostaria que muita gente também teve, a vontade de ser como o protagonista do filme: não só pela oportunidade de lutar por algo realmente importante, impossível de se mensurar em dinheiro, mas por ter tido uma chance de fazer as coisas do jeito certo, recomeçando do zero. E por ai que passa a força desse roteiro. Méritos ao diretor, que contou o mesmo conto, pela milionésima vez e conseguiu proporcionar um encanto como se fosse a primeira. De forma simples e mágica o filme identifica público com personagens, história com estória e a realidade com um sonho.

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