quinta-feira, maio 27

Em que tempo vivemos? Por, Joelson Cardoso

Em tempos que lobos se disfarçam de cordeiros e os cordeiros andam comendo os lobos... Em tempos que a ideologia da revolução confunde-se com a ideologia da conveniência... Em tempos que pensamos em como consumir de forma sustentável, enquanto deveríamos pensar essa lógica maluca de consumismo...

Em tempos que o bem e o mal não mais existem, ou talvez até existam, mas se anulam pela força da conveniência, identificar os heróis e vilões do nosso passado está se tornando cada vez mais uma missão homérica.

O filme Em teu nome, que retrata uma face da realidade dos anos 70, época ardente da ditadura brasileira com torturas, exílios e mortes, foi lançado na capital gaúcha nesta semana. Emocionou o público com sua ótica profissionalmente amadora do cotidiano, mostrando os medos e os anseios, muito próximos da realidade, de quem viveu aquele período nefasto da história deste país.

A Professora Dra.,da Ufrgs, Carla Rodeghero, tem um trabalho de pesquisa incrível acerca da anistia, onde aborda seus meandros e pelo qual descobre e anuncia, para o grande público, o papel fundamental da mulher gaúcha, até então desconhecido ou ignorado pelos grandes autores, no processo de conquista de um direito fundamental para a redemocratização.

O escritor Marcelo Rubens Paiva, autor de Feliz Ano Velho, esteve na pré-estréia do filme em São Paulo, e se emocionou com a história, lembrou de seu pai, o deputado Rubens Paiva, mais um a ser perseguido, torturado e morto. Até hoje a família nunca recebeu o corpo de volta, não se sabe quando, onde e como foi a morte do deputado.

Marcelo comove e provoca um sentimento de revolta em muitas pessoas quando lembra das histórias do pai e de muitos que ao seu lado lutaram por um ideal deveras nobre, que hoje não estão vivos para testemunhar perseguidos e perseguidores compartilhando da mesma caneta para decidir o futuro do povo.

Pensando bem, começo a perceber que vivemos em tempos que lobos não precisam mais se disfarçar de cordeiros, pois ambos caminham agora abraçados, lado-a-lado, pisando sobre os ossos de nossos esquecidos heróis, compartilhando de interesses comuns.

Clique > aqui < para conferir as fotos da exposição sobre os 30 anos da anistia, ocorrida no final de 2009 na Ufrgs .

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