quinta-feira, agosto 19

Revolução silenciosa: o retorno. Por, Joelson Cardoso

Talvez considere o respeito à opinião alheia, mesmo quando se apresenta totalmente divergente daquilo que concebo, o principal, entre os primordiais valores morais da nossa complexa sociedade. Corriqueiramente me deparo com algumas opiniões mais ásperas, acerca de assuntos variados e isso me faz pensar sobre as razões que levaram o seu autor a lançar mão de tamanha eloqüência para se referir. O artigo do jornalista Diego Casagrande intitulado “A revolução silenciosa”, de julho de 2006, volta a circular pela internet e como um hit baiano de verão, está fazendo a cabeça de muitos leitores.

Neste artigo ressurgido das cinzas virtuais, politicamente bem posicionado, o jornalista dispara contra um movimento político-ideológico, que, na sua opinião, carrega claras características comunistas e socialistas, a qual estaria utilizando a ferramenta pública de ensino para incutir nas futuras gerações de cidadãos a sua postura e visão de sociedade: contra o capitalismo, contra os produtores de alimentos, contra a democracia...

Bem... Esta aí um assunto atemporal, que certamente merece alguns bons pares de horas, bem acompanhados de uma boa bebida para molhar a garganta e regar o ardente debate.

Sucintamente falando penso que o caro jornalista tenha exagerado ao discorrer sobre algumas questões que vão muito além do conhecimento oriundo das tendenciosas manchetes de jornais. Se a educação está para a população como uma ferramenta de manobra, o que falar da mídia? Que se não é comprometida com os seus investidores, pelo menos age de forma tendenciosa e quanto maior o investimento maior a responsabilidade.

Em princípio, não posso considerar como ensino inadequado, uma escola itinerante, como as existentes nos “criminosos” acampamentos do MST, que educa baseada em Paulo Freire, que orienta para a postura empreendedora e protagonista, para o combate de peito aberto contra governos omissos, passivos e corruptos, extremamente corruptos, que durante décadas e décadas enrolam essa gente com a promessa de uma reforma agrária, que neste modelo de política, baseada na troca de favores, jamais sairá do papel.

Tendo sim, a pensar o nosso ensino urbano, principalmente o das elites, que naturaliza a fome, a desigualdade, a injustiça sob a premissa de que vivemos em um estado justo de direito, de igualdades, de oportunidades onde todos podem "ser" e "ter" conforme seu empenho e dedicação, como um ensino mascarado, desumano e inadequado para o grau de desenvolvimento ao qual supostamente chegamos.

E estes sem terra, ao contrário do que muitos pensam, não são compostos de vagabundos e aproveitadores, a esmagadora maioria são de famílias que sofreram e vagam desde os anos 70, com os governos da ditadura e suas mágicas mudanças de rumos na industrialização, urbanismo e no campo. Até porque, pensando assim, sabemos que desonestos, vagabundos e oportunista estão por todos os lados e setores: nos movimentos, na política, na justiça, no jornalismo.

Falando de ditadura, como menciona o artigo, lembro que não foi no comunismo, que sofremos com soldados marchando nas ruas de fuzis nas mãos, ameaçando e calando quem ousasse insurgir-se contra o seu regime. Não foram governantes em defesa do totalitarismo que mandaram seqüestrar e matar famílias inteiras, foram governantes que defendiam a dita democracia, ou seria mais apropriado dizer: o capitalismo?

Vamos exercitar! Capitalismo vem de capital, que se cria com a capitalização, que no dicionário significa: "Acumular para formar capital". Ora, estamos falando de dinheiro, isto não tem nada haver com reforma agrária e ações para o povo de baixa renda. Quem tem interesses economicos muito além da nossa imaginação não está preocupado com isto, a não ser que seja incomodado. A suge a questão da ocupação.

Aquilo que conhecemos como comunismo e socialismo, pelas experiências empíricas de alguns países no século passado, não passaram de desculpas inglórias para justificar, neste caso sim, governos totalitários e opressores. Da mesma forma que os senhores feudais, da atualidade, nos impõe goela abaixo este modelo capitalista de sociedade, travestido de democracia e liberdade. Não vamos pensar agora que as pessoas optam pelo sistema que querem viver, não é? Quem estudar um pouco a história e os conceitos destes termos saberá disso.

Como disse, o assunto é extenso, poderia falar e relatar contra-pontos até amanhã, mas acredito que o que escrevi seja o suficiente para mostrar que existe uma outra forma de enxergar e pensar o mesmo caso. E talvez analisar que enquanto esse pessoal está excluído, desamparado, no frio, com fome e lutando pela causa mais justa que possa existir (a dignidade humana) estamos aqui, no conforto do nosso lar, na segurança dos nossos condomínios, na certeza dos nossos proventos, concordando com as críticas de alguém que se quer mencionou os banqueiros, empresários do ramo imobiliário, as grandes corporações e os políticos que lucram, cada vez mais, com o nosso “justo” sistema capitalista, que recrimina esta grande mazela social e permite a especulação e exploração de imóveis por todo o país.

Veja que quatro anos se passaram e o problema ainda existe. Neste tempo, talvez, o jornalista esteja melhor informado e menos rigoroso nos seus julgamentos fracamente embasados, contudo, temo pela incorreta formação de opinião que este tipo de texto possa causar nas pessoas, nesta nova revoada virtual. Temos sérias responsabilidades com o estado em que vivem estas pessoas, na medida em que, muito influenciados por uma mídia parcial, ignoramos e não reconhecemos suas necessidades, muito mais urgentes do que, por exemplo, a mobilização por redução de impostos: o mal que nos tira o sono.

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