segunda-feira, março 29

A naturalização humana da criminalidade, por Joelson Cardoso

A naturalização dos eventos socais, apesar de inerente à rotina, é algo deveras intrigante.Outro dia, em um momento de descontração, escutava e debatia com alguns amigos a questão dos corriqueiros assaltos e roubos ocorridos na capital porto-alegrense, quando um deles comentou em tom de piada: "tem que sair de casa com o dinheiro do pão, o dinheiro do leite e também o do ladrão". Essa frase, não parece, mas é a que mais se encaixa ao nosso cotidiano. Nas grandes cidades como Porto Alegre, é fundamental conhecer os “códigos subliminares” dos bairros e praças por onde se circula.

Alguns locais possuem determinados horários para se trafegar com segurança, caso queira, ou precise circular fora desses horários você corre o sério risco de "pagar o pedágio" (ser assaltado, espancado ou até mesmo sequestrado). A frase proferida por um dos debatedores, em tom de brincadeira, é algo semelhante ao que se presencia ao estacionar o carro ou moto na rua. Quem precisa fazer isso corriqueiramente já se acostumou a separar um “trocado” para o famoso "guardador de carros", pois confiar na sorte, nestas situações, é um risco muito alto a assumir.
Tempos atrás, em casos assim, a garrucha iria cantar ou no mínimo o “três listas” (famoso facão utilizado pelo gaúcho campeiro) iria assoviar no lombo dos malandros. O sinal é claro: aceitamos estas situações como parte do nosso cotidiano, naturalizamos a criminalidade, seus agentes e suas injustiças.Em porto alegre, em meados do mês de março, a notícia da hora dava conta da falta de sorte de um rapaz que foi assaltado duas vezes em menos de 10min. Ele parou sua moto em um cruzamento e foi abordado por um assaltante armado com uma faca: teve que entregar a sua carteira. Logo após arrancar a sua motocicleta parou no semáforo seguinte, naquele momento, ao se encontrar sob a mira de uma arma de fogo, entregou o seu celular para outros dois criminosos. E quando achou que havia terminado a inusitada seqüência de azar, em menos de 100m, ele ainda presenciaria um violento roubo de carro com tentativa de assassinato.A constatação a que chegamos (já há algum tempo) com este e vários outros exemplos é de que a segurança pública está despreparada, atrasada, fraca.
Além de não termos quem nos defenda ainda somos proibidos e adestrados para não praticarmos a autodefesa, esta última, beneficiando-se da ignorância popular sobre o tema, é a maior das covardias cometida contra o cidadão.
Infelizmente, mesmo que começássemos imediatamente a repensar, a priorizar uma estratégia nova e eficaz para as políticas de segurança pública, os resultados positivos demorariam a aparecer, pois estamos muito aquém da capacidade, da organização, da aparelhagem dos vilãos de nossa sociedade.
Em suma, como já diziam os antigos: "quanto mais se abaixa, mais se mostra os fundilhos". É um velho ditado popular, de linguagem brega, mas que retrata bem essa situação. A julgar a situação de domínio da criminalidade sobre os cidadãos e a polícia, por essa antiga “tese”, poderia dizer que não estamos mais com os fundilhos, mas sim, com as bundas de fora!

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